Das coisinhas da vida #2
Da prole.
De pequeninos "eus" que cada família produz. Da maternidade e da paternidade.
Já aqui deixei, em tempos, logo no início deste Blog, um desabafo sobre quem não produz linhagem e por isso se sente como um urso polar a subir a Calçada do Combro a tentar sentar-se lá atrás no 28. Um ser completamente anormal.
Essa sensação de "bicho raro" já me passou, pudera, já lá vão tantos anos que outra coisa não podia ser e acho que ainda ontem vi um hipopótamo a apanhar o comboio na Estação de Santos.
Recentemente troquei emails e mensagens com uma mulher, extra-ordinária, que há 20 anos tenta ter um filho, que ao 20º tratamento conseguiu finalmente engravidar e no dia 20 de Outubro nasceu a Marta.
A realidade supera sempre a ficção. A realidade é espantosa e cheia de requintes. Quem escreve gosta de o fazer porque inventa personagens, coisas, cenas, momentos, e põe tudo junto, mistura, baralha e baralha ainda mais.
Mas a realidade tem o condão de produzir personagens, coisas, cenas e momentos tão únicos como extra-ordinários!
Em conversa com amigas, mulheres, mães, casadas, juntas, divorciadas, mulherio que quando se junta partilha ideias, sentimentos, desabafos, cheguei a uma conclusão. Por ser a única que não tenho filhos, no meu círculo mais chegado de amigas, oiço-as com toda a minha atenção. Pratico a chamada "escuta activa", pareço um leopardo, escondido debaixo do capim, com as orelhas espalmadas contra a cabeça só a ouvir.
Depois de tanto ouvir, cheguei à conclusão de que afinal "ter filhos" é só uma das partes. Ou seja, não é um fim em si mesmo, é mais uma fase. Como quando passamos da Primária para o Liceu ou acabamos a Faculdade e mandamos c.v's ou como quando acabamos o MacRoyal Deluxe e passamos ao sundae de chocolate com topping de amêndoas.
Os filhos são afinal uma passagem. E o clique fez-se na minha cabeça. Só agora passados tantos anos, tantos anos em que fui um urso polar a tentar sentar-me num banquinho do 28, com toda a carga de sofrimento atroz que isso significa. Mas não é dessa dor que eu venho aqui falar, não lhe dou tempo de antena, nem a temo. Conheco-a bem. (Ela costuma querer sentar-se no banco do lado, mas eu nunca lhe passo cartão.)
Afinal, mesmo com filhos, há imensa frustração, dúvidas, angústias. E eu andei aqui ao engano. A julgar que assim que fosse Mãe que o mundo se tornaria mais azul e as laranjas mais saborosas.
Mas afinal, nada disso!
Ouço, leio. Livros como "Socorro, sou Mãe", insultos à celulite que se fossem água, seriamos seres anfíbios há muitos e muitos anos, os maridos, as empregadas, as eternas sogras, as escolas (o verdadeiro paradigma de fazer 3 anos), os maridos outra vez, o (não) sono, a (não) paixão, o (não) amor, a (não) realização.
Afinal é só uma passagem. A vida continua depois.
Elas confirmam, que é assim, sim senhora.
Além disso, há uma cascata de questões que correm atrás dos carrinhos e dos triciclos. Mãe, foi antes também filha. É uma pessoa, como eu, cheia de dúvidas.
Assim sendo, fico mais descansada.
É um estado de graça profundamente maravilhoso e uma realização, sem dúvida. Mas só, não chega. Elas mais uma vez confirmam.
Até lá, para quem não está habituado a ver os hipopótamos e os ursos polares, aprenda a respeitar um bocadinho quem se sente tão "diferente". Ninguém sabe o que cada pessoa sente e por muito que digam que imaginam, na verdade não imaginam coisa nenhuma.
Eu andei uns bons anos com uma saca de 50 quilos de cimento em cima da minha cabeça. Agora percebi como estava errada. (7 anos para haver um clique). Ter filhos, afinal, não é a solução que o Universo precisa.
Até lá, vou dar uma ajudinha a um pelicano que se entalou na máquina dos chocolates no Metro.
De pequeninos "eus" que cada família produz. Da maternidade e da paternidade.
Já aqui deixei, em tempos, logo no início deste Blog, um desabafo sobre quem não produz linhagem e por isso se sente como um urso polar a subir a Calçada do Combro a tentar sentar-se lá atrás no 28. Um ser completamente anormal.
Essa sensação de "bicho raro" já me passou, pudera, já lá vão tantos anos que outra coisa não podia ser e acho que ainda ontem vi um hipopótamo a apanhar o comboio na Estação de Santos.
Recentemente troquei emails e mensagens com uma mulher, extra-ordinária, que há 20 anos tenta ter um filho, que ao 20º tratamento conseguiu finalmente engravidar e no dia 20 de Outubro nasceu a Marta.
A realidade supera sempre a ficção. A realidade é espantosa e cheia de requintes. Quem escreve gosta de o fazer porque inventa personagens, coisas, cenas, momentos, e põe tudo junto, mistura, baralha e baralha ainda mais.
Mas a realidade tem o condão de produzir personagens, coisas, cenas e momentos tão únicos como extra-ordinários!
Em conversa com amigas, mulheres, mães, casadas, juntas, divorciadas, mulherio que quando se junta partilha ideias, sentimentos, desabafos, cheguei a uma conclusão. Por ser a única que não tenho filhos, no meu círculo mais chegado de amigas, oiço-as com toda a minha atenção. Pratico a chamada "escuta activa", pareço um leopardo, escondido debaixo do capim, com as orelhas espalmadas contra a cabeça só a ouvir.
Depois de tanto ouvir, cheguei à conclusão de que afinal "ter filhos" é só uma das partes. Ou seja, não é um fim em si mesmo, é mais uma fase. Como quando passamos da Primária para o Liceu ou acabamos a Faculdade e mandamos c.v's ou como quando acabamos o MacRoyal Deluxe e passamos ao sundae de chocolate com topping de amêndoas.
Os filhos são afinal uma passagem. E o clique fez-se na minha cabeça. Só agora passados tantos anos, tantos anos em que fui um urso polar a tentar sentar-me num banquinho do 28, com toda a carga de sofrimento atroz que isso significa. Mas não é dessa dor que eu venho aqui falar, não lhe dou tempo de antena, nem a temo. Conheco-a bem. (Ela costuma querer sentar-se no banco do lado, mas eu nunca lhe passo cartão.)
Afinal, mesmo com filhos, há imensa frustração, dúvidas, angústias. E eu andei aqui ao engano. A julgar que assim que fosse Mãe que o mundo se tornaria mais azul e as laranjas mais saborosas.
Mas afinal, nada disso!
Ouço, leio. Livros como "Socorro, sou Mãe", insultos à celulite que se fossem água, seriamos seres anfíbios há muitos e muitos anos, os maridos, as empregadas, as eternas sogras, as escolas (o verdadeiro paradigma de fazer 3 anos), os maridos outra vez, o (não) sono, a (não) paixão, o (não) amor, a (não) realização.
Afinal é só uma passagem. A vida continua depois.
Elas confirmam, que é assim, sim senhora.
Além disso, há uma cascata de questões que correm atrás dos carrinhos e dos triciclos. Mãe, foi antes também filha. É uma pessoa, como eu, cheia de dúvidas.
Assim sendo, fico mais descansada.
É um estado de graça profundamente maravilhoso e uma realização, sem dúvida. Mas só, não chega. Elas mais uma vez confirmam.
Até lá, para quem não está habituado a ver os hipopótamos e os ursos polares, aprenda a respeitar um bocadinho quem se sente tão "diferente". Ninguém sabe o que cada pessoa sente e por muito que digam que imaginam, na verdade não imaginam coisa nenhuma.
Eu andei uns bons anos com uma saca de 50 quilos de cimento em cima da minha cabeça. Agora percebi como estava errada. (7 anos para haver um clique). Ter filhos, afinal, não é a solução que o Universo precisa.
Até lá, vou dar uma ajudinha a um pelicano que se entalou na máquina dos chocolates no Metro.
Comentários
Que bom saber que o tal clique te chegou....porque custa muito pensar que sofres!!!
Maravilha ver-te dar a volta e aceitar mais um pouquinho o que a vida te trouxe.
BEM HAJA!
Beijinho de mais uma ursa polar