Tenho para mim a ideia de que, cada vez mais, os bons momentos acontecem quando não são planeados. Já essa mesma teoria acerca da vida, é um pouco diferente. Claro que o segredo está no equilíbrio entre viver um dia de cada vez e saber "organizar" o futuro. Mas quando se diz que "a vida é que nos acontece enquanto estamos a fazer outros planos", isso carece já de alguma reflexão.
Acredito que temos de sonhar, temos de querer evoluir, ser melhores amanhã do que somos hoje e isso implica planear, pensar na construção do caminho. Inevitavelmente.
Por outro lado, de uma forma muito natural, gosto de tentar encontrar um padrão para cada situação que me acontece, e ultimamente tem sido na base do inesperado. Daquilo em que "tropeço" sem querer.
Já por várias vezes tenho tido encontros com amigos e pessoas que não via há um ano, na base do imprevisto. E daí surgem momentos de uma genuína celebração de amizade.
Nessa tarde, depois de me ter perdido pela Bertrand no Chiado, resolvi subir o resto da Rua Garrett até casa. Era suposto encontrar-me com este amigo, ele está de passagem por Portugal, vindo de Moçambique (Pemba) indo para a Coreia do Sul. Falamos num possível encontro nessa tarde, pela Baixa, mas não se marcou hora nem sítio. E acabou por acontecer em plena Rua Garrett, sem lugar nem hora marcada. Vi um amigo que não via há meses e com ele voltaram as memórias de um lugar onde pertenci, a 13.000 km daqui.
O A. vive com a Y. em Pemba. Conheceram-se na Malásia. Ele é português, ela sul-coreana. Ela vem de uma família coreana altamente tradicional, tinha um emprego como designer de jóias, onde ganhava muitíssimo bem. Ele já trabalhava em África há alguns anos como topografo. A Y. resolveu tirar um curso de Yoga e depois viajar sozinha durante 5 meses e assim conheceu o A. que andava de férias pela Ásia. Juntaram-se os dois em Pemba e por lá vivem há mais de um ano a partilhar uma vida a dois. Uma experiência de vida fabulosa. Poucos planos para o futuro, vivendo um dia de cada vez, sabendo que têm de ganhar o seu, trabalhar, pois não se vive do ar. Mas com um plena escolha da sua liberdade, uma genuína escolha da vida que quiseram tomar.
No outro dia, ouvi alguém dizer, a propósito destas mudanças de vida, de seguir os seus sonhos, de arriscar, de sair da zona de conforto, que não vivemos num mundo de faz-de-conta, que a realidade é bem crua e andar atrás dos sonhos é uma fantasia, que arrasta a família, os filhos, os maridos e as mulheres para um pesadelo de contas para pagar.
Penso que o mais importante é que cada um se sinta bem na escolha que tomou, se a sua escolha é viver num T2 com a televisão plasma e a quinzena de férias no Algarve, então muito bem. Mas se a sua escolha/ sonho seria experimentar a vida numa outra cidade, ter dois cães, um gato, tirar um curso de nadador salvador, aprender a fazer velas ou tapetes de arraiolos, então por que não tentou?
Acredito que o do T2 também gostasse de experimentar o curso de nadador salvador, mas queixa-se que 1º: tem filhos e 2º: é complicado. É sempre muito complicado. Será sempre tão complicado quão amedrontado está o do T2 em pela primeira vez ter pensado na vida que lhe "calhou" e não na que "escolheu" para si. A desculpa do dinheiro (da falta dele) é a mais fácil e a mais óbvia de dar, como se o dinheiro, algum dia, pudesse pagar os sonhos de cada um. Se assim fosse, haveria um "Corte Inglês" de sonhos, era simples e pagava-se com cartão de crédito. Mas não há. Não há, porque o dinheiro não resolve nada disso, antes pelo contrário.
E assim se vão "dividindo" os Homens, entre a quem a vida calhou e a quem a vida escolheu.
Comentários
e depois...... parece tão fácil!