Verão a Hemisfério Sul


Aqui começa o Inverno. No Hemisfério Sul começa o Verão. Lá termina a época seca e chegam as primeiras chuvas e o calor é tanto quanto mais se deseja que chova. Não consigo deixar de pensar nesta passagem do Equinócio, sem me lembrar do que sentia, da mesma forma que quando lá estava a minha memória dava-me as referências daqui.
Dormia até às 6h00, no máximo conseguia manter-me na cama até às 6h30. A rede mosquiteira acaba sempre por abafar a atmosfera e fechar o ar entre os minúsculos buracos. O sol nasce às 4h30 da manhã, às 8h00 o calor já se tornava insuportável. O telhado da casa fervia e nós, debaixo dele, fervíamos também. Os barrotes do telhado estalavam com o calor, dilatando-se e nós dilatávamos também.

Só existe um lençol que cobre um colchão e duas almofadas com fronha. Nada mais. Durmo de barriga para cima, os braços afastados do tronco, o cabelo preso num elástico, a cabeça no centro da almofada. Procuro mexer-me muito pouco. Evito acordar a meio da noite, quando abaixo do meu queixo, e seguindo para a covinha que há logo depois da garganta, no meio de dois ossos, correm as gotas de suor que se juntam num lago de sal.

Tudo é muito pensado e feito de forma lenta. Ir onde, fazer o quê, esperar onde, falar com quem. O calor limita o avanço, o progresso. A simples ideia de ter de ir ao outro lado da estrada, onde o sol bate, é desanimadora. Os bichos ficam lentos, os cães ficam lentos, o mar fica lento, os mosquitos ficam lentos, tudo fica lento.
A pele derrete-se em suor, em contacto com a mais milimetrica superfície, as baratas voam, os escorpiões e as poças ressecam, os bichos quase desaparecem, o homem esconde-se nas sombras. 
E chegando ao pico do Verão (em Janeiro), quando a terra já não consegue ter mais pó e o ar começa a ficar amarelo, chega a água. Chega a chuva e eu nunca pensei desejar tanto a chuva. Todos os dias, ao final da tarde e na manhã seguinte, cai uma água que liberta a terra, os animais e as pessoas. Como se cobrisse a terra de um manto, como um bálsamo para as queimaduras e que depois se vai diluindo ao longo das horas. E com a água tudo regressa, a mandioca cresce, o milho, as papaias, as mangas, o verde, a relva, as flores, os pássaros e os ninhos, o mangal, os rios e os lagos, numa espécie de Primavera que se segue a um Verão.

Comentários

Anónimo disse…
É quase o que aconteceu naquele filme que era o "Em Busca da Esmeralda Perdida",Um filme de acção dos melhores.

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